Coisas Soltas

“Mesmo o extravio é belo, porque,

voltando,

a pessoa se torna mais enriquecida.”

– Osho –

 Fui engolida pelos dias. O que aconteceu? Não sei dizer…Perdi-me nas horas, muitas horas. Sentia dores, muitas, mas não foram elas que me travaram. Não me deixei ficar esparramada no sofá, não li os livros que queria, não acarinhei minhas gatas filhas o tanto que gostaria, não fiz faxinas, nem consegui fazer os trabalhos que queria. Mas não estava inerte.

Olha que loucura! Todos os dias, me levantei cedo, dei voz e vez às demandas da vida, às contas, às mudanças, às vozes de fora. Andei de ônibus, honrei pontualmente as horas marcadas. Estive fora. A única coisa minha desses tempos, foram enfim, terminar três livros que havia iniciado sei lá há quanto tempo. Estava no mundo…

Faz algum tempo que não me ocupo de credenciais profissionais para me descrever, tampouco para existir. Acho abusivamente enfadonho quando coleguinhas já chegam se apresentando pela profissão ou cargo ocupado. Sei lá, sinto como se estivesse sendo apresentada a um computador ou robozinho desses modernos que já se movimentam com certa facilidade. Em minhas palavras: CHATINHO….

Por favor, não se ofenda, caso faça isso! Não é nada pessoal, é apenas o meu sentir, um tanto cansado das mesmices hierarquicas- capitalistas-nada pessoais que ganharam status de normalidade por aí.

Então…como ia dizendo, perdi o tempo, o calendário, as memórias. Sei lá…por vezes penso estar meio lélé, um tanto biruta…Até que me caem aqueles cinco minutos de “lucidez” e me dou conta: TODA vez que vivo o cotidiano lá de fora, aquele bate estaca de acorda-levanta-se arruma- sai de casa – trabalha – paga conta – volta – queixa-se – dorme, morro. É assustador como isso engole a gente e ainda chamam essa repetição de vida!!

Olha, nas últimas semanas, eu fui filha, namorada, amiga, professora, mãe de gatas e administradora do lar e das contas, ou seja, não estive inerte, não estava comendo pipoca sentada no sofá vendo tv, todo esse tempo. Parece que passaram dois anos em um mês. Perdi prazos do que mais amo na vida: escrever! Fui posta de lado para projetos que me interessavam porque não vi os dias passarem. Meu labirinto interno e torto, parece ter dado a mão ao tempo e rompido-se de vez. Não percebi minha ampulheta quebrada até ser tarde.

Daí, minha filha mais velha começou a ficar carente demais, a me olhar com aqueles enormes olhos amarelos de amor e chantagem disfarçada de amor e, entre um miado e outro, me contou o que eu insisti em não ver: eu estava ausente de mim.  Solta, cansada, perdida. Dando voltas vazias em volta do tempo.

Até que algo aqui dentro se mexeu, renovei a ampulheta, pedi licença às filhas e voltei pro meu mundo particular. Articular letras-ideias-sentimentos-movimento. É o que conheço como vida, é o único jeito de não me sentir um zumbi. Voltei ao cheiro da tinta da caneta, do som do teclado e já sinto um vislumbre do coração batendo. É a vida voltando ao encaixe do caça palavras que me ecoam e invadem esse corpo, tal oxigênio para o moribundo com parada respiratória.

Por hora, voltamos a respirar! Oba.

Um comentário em “Coisas Soltas

  1. Penso, do fundo do meu coração, que o retorno para nós mesmos é o ato mais valioso que precisamos realizar… mesmo que, para isso, seja necessária a abdicação de todo um montante de outras coisas…
    Tarefa difícil, mas absurdamente primordial!
    Vamos juntas, sempre…
    Amo você!

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